segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O que lhe assusta

Ela...
Gostaria de ter visto quem não viu, ido onde não foi, ganhado o que não ganhou, escutado o que não disseram, sentido o que gostaria a muito tempo de sentir e não sente.

Ela...
Deveria procurar quem não procura, ir onde não vai, deveria receber de quem quer lhe dar o que quer ganhar, mas não ganha, permitir que alguém lhe dissesse o que quer ouvir e não ouve, deveria buscar sentir o que quer sentir a muito tempo e não sente.

Ela...
Nunca muda, aliás, a mudança lhe assusta.




De Camila Mascarenhas

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Perdi...


As contas, as lembranças, os cheiros, os jeitos... perdi!

Não sei quanto tempo faz que foi embora, mas perdi as contas de quantas vezes desejei teu abraço forte, tua presença silenciosa ou não, mas segura. Perdi as lembranças de tua feição e as marcas do tempo em teu rosto.

Perdi os cheiros de amizade, carinho, fé e também de frango no forno, empanada e arroz temperado, que nunca consigo fazer como fazias. 

Perdi o teu jeito, de falar, de sorrir, de chorar, de dormir, de viver e de simplismente ser.

Sem o convívio perdi muito, na verdade, perdi demais e  não há como recuperar o que foi perdido, pois o tempo não volta e as pessoas mudam todo tempo.

Uma coisa não perco, nem quando desejo perder, as vezes eu gostaria de perder-lo para não sentir o vazio das outras que perdi, mas não perco o amor que é teu e vive no meu coração.



De Camila Mascarenhas

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Se não fosse pecado...

Acaso não fosse pecado eu diria...

Diria as coisas que pensei e senti no instante em que tua voz tocou meus ouvidos, falaria abetamente do que teus olhos cofessaram no instante em que tocaram meu corpo, espalharia pelo ar o perfume dos teus sentimentos no momento em que roubastes o meu mundo, coração,  pensamento e os desejos. Sim, falaria abertamente que enquanto estava a esperar por aquele que nunca chegava, tu viestes e me roubastes  para ti, roubastes quase tudo, diria ainda, que das coisas que me sobraram eu mesmo dei a ti, pois enchias de cores e vida todo o mundo e, sob teu encanto, já não podia fugir da alegria constante que era estar contigo.

Se acaso não fosse pecado eu diria...

Do sangue derramado pelo chão, nas paredes, na tela, diria ainda das palavras que ecoavam em meus ouvidos repetidamente pela voz feminina que nunca ouvi, mas conhecia, diria o que ela gritava em meu mundo, que era teu, pois tu roubastes para ti, e que naquele instante destruias com a mesma arte e maestria que um dia roubara. Sim, diria dos sons de horror, dos pesadelos, de toda tortura, dos cortes na carne, dos choques na alma, do fantasma que usavas para me assombrar, das lágrimas que me obrigavas a derramar enquanto sorrias e contava aos quatro ventos que me destruias... Diria, se não fosse pecado, de cada gota de morte que me davas a beber cada vez que me obrigavas a reviver minha morte no mundo que tomastes para si e agora devolvias em ruinas, sem qualquer respeito, amizade, vergonha ou pudor.

Se acaso não fosse pecado, cantaria toda alegria e toda dor, faria versos de amor e de morte, lavaria toda tinta cinza que cobre o que um dia era cor, mas é tudo pecado, vou então brindar tudo que morre e chorar tudo que nasce, sem esquecer, nem por um minuto, que em nada disto tenho parte.



De Camila Mascarenhas

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ao Amigo distante

Sempre sinto tua falta, sempre sinto saudade, mas hoje... Hoje precisei de você mais que muito! Queria teu colo, teu ombro, teu silêncio. Precisei mais do que muito, estar ao teu lado. No desespero, fui ao por do sol em busca da paz, mas até no silêncio do sol indo embora, a tua ausência gritava.

Hoje precisei muito daquele teu olhar que me entende sem palavras. Sinto que nada além de tua presença me daria hoje as certezas que tanto preciso. Hoje odeio o Rio, ter crescido, a distância, quase tudo, só não odeio nossa amizade.

Nossa amizade me faz lembrar que mesmo você não estando aqui, existe neste mundo alguém como você e isto conforta, faz perceber que a vida bate, mas também abraça!






De Camila Mascarenhas

Versinho


Este verso torto vai para tudo que passou e não passou, para tudo que perdemos quando não queríamos ou achamos sem querer.

Vai para todos os planos falhos, sonhos desfeitos, tempo perdido, versos sem paixão, dor não dividida, palavra engasgada, lágrima em vão.

É dedicado a todos os dias de pé esquerdo, gato preto, escada no caminho e titica de passarinho.

Afinal, estes dias são especiais, exercitam a paciência!





De Camila Mascarenhas

terça-feira, 10 de maio de 2011

Nenhum adeus vai apagar...

...
E ela disse:
-Mas eu nunca postei nada que não fosse meu!
Eu falei:
-Mas desta vez é diferente.
Ela falou:
-Verdade, por mais que procure palavras eu não encontro nelas o que quero dizer, parece que não existem palavras suficientes ou que não existem palavras para descrever o que sinto agora.
Eu falei:
-Então?! Usa Caetano, ele vai falar bem por você!
Ela sorriu e fez assim:

Pra te Lembrar*

Que é que eu vou fazer pra te esquecer?
Sempre que eu já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar...
Que é que eu vou fazer pra te deixar?
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E o silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...
Me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar...
Que é que eu vou fazer pra te lembrar?
Como tantos que eu conheço e esqueço de amar
Em que espelho teu, sou eu que vou estar?
Ao te ver sorrindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar...

*Caetano Veloso e Nei Lisboa 

terça-feira, 26 de abril de 2011

Já não importa

É tarde (...)
Agora já não adianta (...)
Já não serve mais lembrar dos sonhos (...)
Os nosso sonhos (...)
Aqueles sonhos que sonhamos juntos (...)
Tu os destruístes (...)
Não adianta pensar neles, lembrar deles (...)
Não posso mais realizá-los (...)
Empenhar-me-ei a sonhar novos sonhos (...)
Desta vez sonharei sonhos que somente eu possa destruir (...)
Buscarei ainda, aqueles sonhos, meus, que me convencestes a guardar em troca de sonhos nossos (...)
Além dos novos sonhos, terei de volta os meus sonhos (...)
Jamais os guardarei novamente (...)
 Terei apenas sonhos meus para realizar, mas e tu?
Já não importa.



De Camila Mascarenhas

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Especial

Na verdade o que a gente quer é ser especial.

Quando a gente é especial para alguém a vida muda de cor, as músicas são mais bonitas, enxergamos o mundo com outros olhos, tudo se torna melhor, até as dores doem menos...

O que verdadeiramente queremos é ser especial para alguém.
Não importa se é para o motorista que você encontra diariamente e se você se atrasa ele demora um segundinho a mais pra ver se você aparece e pega ônibus, ou o seu gato que te espera chegar deitado no muro olhando a rua, a moça do cafezinho que sempre deixa na sua mesa o seu café mesmo quando você não está na mesa, só porque ela sabe que vc gosta, ou sua mãe que te espera acordada até que você finalmente chega e ela pode ir dormir, ou se é para o amor de sua vida que te recebe com um abraço apertado cheio de saudade depois de um dia de trabalho...

Não importa! O que a gente quer é ser especial, e quando nos tiram isto, dói mais que dor de dente, muito mais que uma topada, que cólica intestinal. Dói por dentro, parece que estão te arrancando a alma do corpo, e fica um vazio que não tem mais tamanho no peito.

Cuidado ao retirar o valor que um dia depositou em alguém. As vezes é inevitável que alguém se torne comum, mas a forma como fazemos isto pode  não ser cruel para quem sente.


De Camila Mascarenhas

sexta-feira, 1 de abril de 2011

1° de Abril

Esqueci...
 
Teu nome, teu rosto, teu gosto, teu cheiro.

Apaguei...

As senhas, as letras, as chamas.

Rasguei...

As cartas, as fotos, as roupas.

Aquele bilhete preso no quadro, os passeios de mãos dadas pela estrada, o primeiro beijo, o calor da cama pequena, o silencio da chegada, o madrugar para partida, as lágrimas dos sorrisos... Tudo...

De todo tempo juntos, não restou nada.

Nunca fale daquele tempo juntos, das horas que passamos apegados sem noção do tempo, perdidos em carinhos.

Esqueça, pois eu, de nada disto sei.

De repente, amnésia! 



De Camila Mascarenhas

quarta-feira, 30 de março de 2011

Angustia


Meu momento é tenso, precede alegria ou dor, quiçá?

Num escaninho da alma me refugio da angustia, mas ela em alguns momentos me surpreende.

Rogo a Deus que não falte serenidade quando a hora chegar, nem a razão necessária para manter o próprio respeito.

Que o momento seja indulgente, não que eu seja merecedor, mas em virtude dos sentimentos.




De Camila Mascarenhas

segunda-feira, 14 de março de 2011

O grito no muro

Ela estava passando distraída, aluada, flutuante, como uma folha que trafega no vento, quando, mais que de repente, ela leu o escrito no muro, meio muro, estava quase todo destruído, restava apenas aquele pedaço com aquela escrita, parece que era a escrita que mantinha aquela ruína em pé de tão linda que era...

Aquelas palavras tinham força suficiente para fazer permanecer alí aquele pedaço de muro desmoronando...

As palavras também tinham o poder de fazer o sol brilhar se o dia estivesse nublado...

Aquelas palavras fizeram ela mudar o caminho, ela queria passar por alí para ler e fazer a sua alma sorrir...

Durante dias ela passava e permanecia alí por algum tempo lendo, relendo, pensando, sorrindo, chorando e amando...

O muro gritou aos olhos dela dizendo assim:

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."*

Por vezes a vi alí  ouvindo aquele muro,  confesso que aos ouvidos de minh'alma o muro também gritou.



*Texto de João Cabral de Melo Neto 



De Camila Mascarenhas


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Encontro...


Que bom que você chegou... Gostaria de poder viver aí, e se fosse possível não voltar, mas não posso, tenho que permanecer aqui, sei disso...
...
Desculpe, sei que é covardia, sou covarde as vezes, mas também sempre enfrento o que me aflige, mesmo quando a vontade de fugir chega assim , forte!
...
Não precisa se preocupar, não vou mais falar disto, deixa pra lá, não se preocupe, já esqueci, vou chorar um pouco e isso passa, mas antes de você ir, e antes que eu acorde, me faz mais um pouco de cafuné e me abraça forte, é que eu sinto muito sua falta e sempre que você me abraça acordo com seu cheiro!

Quando você vem novamente?

...
Tudo bem, sei que mais cedo ou mais tarde você virá!
...
Te amo!


De Camila Mascarenhas

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Só Hoje

Hoje lembrei da razão de um dia ter transformado em tempestade uma gota d'água...

Hoje lembrei a razão de ter expulsado você daqui, dalí, de lá e de todo lugar onde você sempre estava...

Hoje eu fiquei triste...

Hoje o tempo que passou voltou depois que fui embora e até aquela tatuagem que fiz, e que leva teu nome, doeu como no dia em que foi feita...

Hoje pensei em tudo que foi, em tudo que é, no que desejei, no que não foi, no que deveria, no que não é, e no que nunca será...

Hoje o estranho se fez amigo intimo, e o amigo intimo se fez estranho...

Hoje sentimentos adormecidos acordaram e senti ciúme, saudade e inveja, só não senti alívio...

Hoje amei como um dia e como nunca mais...

Hoje tudo novo, que era velho, de novo...

Tudo isto, só hoje!



(As vezes nos identificamos nas dores das outras pessoas, por isto, dedico este Verso Solto  a Emília Farias)


De Camila Mascarenhas

Ela me procurou...

Ela me procurou, bateu em minha porta, entrando rapidamente antes mesmo que houvesse uma resposta, e disse:

-Entendi! Entendi! É preciso viver!

E continuou com um largo sorriso:

-É preciso viver, é preciso abraçar o desconhecido, não ter medo do futuro e correr riscos! Eu entendi que viver é correr riscos sem ter medo, só preciso mensurar os riscos e não tirar os pés do chão sem antes calcular as possibilidades, as boas e as ruins!

Continuei olhando enquanto ela sorria e continuava a falar numa euforia atônica:

-Tenho apenas que acreditar nas boas, rezar para que elas aconteçam e acreditar, mas sabendo que pode tudo ser diferente do que desejo.

Ela fez uma breve, muito breve, pausa para respirar e continuou:

- É isto não é?! Eu sei que é! Foi isto que quisestes dizer, não foi?! Eu sei que foi!

Depois disto, beijou-me a face como quem deseja beijar-me a alma, olhou-me nos olhos agradeceu, virou-se e saiu, no mesmo furor com que chegou, sem ao menos dar-me a chance de responder uma única pergunta.

Lembro-me bem, ela saiu como a criança que descobre um tesouro. 

Naquele instante eu percebi que ela estava crescendo, e logo saberia defender-se sozinha e a única coisa que nos ligaria seriam os sentimentos.

Chorei, não dizer se de tristeza ou de alegria pela sua conquista, apenas sei que chorei, sabia que não era tão simples como uma soma exata, mas ela estava no caminho.

Ela entendeu que existem riscos que precisam ser corridos! 



De Camila Mascarenhas