Ela estava passando distraída, aluada, flutuante, como uma folha que trafega no vento, quando, mais que de repente, ela leu o escrito no muro, meio muro, estava quase todo destruído, restava apenas aquele pedaço com aquela escrita, parece que era a escrita que mantinha aquela ruína em pé de tão linda que era...
Aquelas palavras tinham força suficiente para fazer permanecer alí aquele pedaço de muro desmoronando...
As palavras também tinham o poder de fazer o sol brilhar se o dia estivesse nublado...
Aquelas palavras fizeram ela mudar o caminho, ela queria passar por alí para ler e fazer a sua alma sorrir...
Durante dias ela passava e permanecia alí por algum tempo lendo, relendo, pensando, sorrindo, chorando e amando...
"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."*
Por vezes a vi alí ouvindo aquele muro, confesso que aos ouvidos de minh'alma o muro também gritou.
*Texto de João Cabral de Melo Neto
De Camila Mascarenhas
Ah!!! essa Loura que consegue nos fazer ir fundo em nossas emoções, voltou inspiradíssima, parabéns. Emilia
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