quarta-feira, 30 de março de 2011

Angustia


Meu momento é tenso, precede alegria ou dor, quiçá?

Num escaninho da alma me refugio da angustia, mas ela em alguns momentos me surpreende.

Rogo a Deus que não falte serenidade quando a hora chegar, nem a razão necessária para manter o próprio respeito.

Que o momento seja indulgente, não que eu seja merecedor, mas em virtude dos sentimentos.




De Camila Mascarenhas

segunda-feira, 14 de março de 2011

O grito no muro

Ela estava passando distraída, aluada, flutuante, como uma folha que trafega no vento, quando, mais que de repente, ela leu o escrito no muro, meio muro, estava quase todo destruído, restava apenas aquele pedaço com aquela escrita, parece que era a escrita que mantinha aquela ruína em pé de tão linda que era...

Aquelas palavras tinham força suficiente para fazer permanecer alí aquele pedaço de muro desmoronando...

As palavras também tinham o poder de fazer o sol brilhar se o dia estivesse nublado...

Aquelas palavras fizeram ela mudar o caminho, ela queria passar por alí para ler e fazer a sua alma sorrir...

Durante dias ela passava e permanecia alí por algum tempo lendo, relendo, pensando, sorrindo, chorando e amando...

O muro gritou aos olhos dela dizendo assim:

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."*

Por vezes a vi alí  ouvindo aquele muro,  confesso que aos ouvidos de minh'alma o muro também gritou.



*Texto de João Cabral de Melo Neto 



De Camila Mascarenhas