segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Se não fosse pecado...

Acaso não fosse pecado eu diria...

Diria as coisas que pensei e senti no instante em que tua voz tocou meus ouvidos, falaria abetamente do que teus olhos cofessaram no instante em que tocaram meu corpo, espalharia pelo ar o perfume dos teus sentimentos no momento em que roubastes o meu mundo, coração,  pensamento e os desejos. Sim, falaria abertamente que enquanto estava a esperar por aquele que nunca chegava, tu viestes e me roubastes  para ti, roubastes quase tudo, diria ainda, que das coisas que me sobraram eu mesmo dei a ti, pois enchias de cores e vida todo o mundo e, sob teu encanto, já não podia fugir da alegria constante que era estar contigo.

Se acaso não fosse pecado eu diria...

Do sangue derramado pelo chão, nas paredes, na tela, diria ainda das palavras que ecoavam em meus ouvidos repetidamente pela voz feminina que nunca ouvi, mas conhecia, diria o que ela gritava em meu mundo, que era teu, pois tu roubastes para ti, e que naquele instante destruias com a mesma arte e maestria que um dia roubara. Sim, diria dos sons de horror, dos pesadelos, de toda tortura, dos cortes na carne, dos choques na alma, do fantasma que usavas para me assombrar, das lágrimas que me obrigavas a derramar enquanto sorrias e contava aos quatro ventos que me destruias... Diria, se não fosse pecado, de cada gota de morte que me davas a beber cada vez que me obrigavas a reviver minha morte no mundo que tomastes para si e agora devolvias em ruinas, sem qualquer respeito, amizade, vergonha ou pudor.

Se acaso não fosse pecado, cantaria toda alegria e toda dor, faria versos de amor e de morte, lavaria toda tinta cinza que cobre o que um dia era cor, mas é tudo pecado, vou então brindar tudo que morre e chorar tudo que nasce, sem esquecer, nem por um minuto, que em nada disto tenho parte.



De Camila Mascarenhas